Houve um tempo em que eu ficava aborrecido, indignado, quando um praticante da arte suave cometia algum crime com excesso de violência física, e os veículos de comunicação destacavam nas reportagens que o sujeito era “lutador de jiu-jítsu”. Eu tinha a impressão de que, quando os jornalistas faziam isso, queriam dizer: “Eu avisei”, ou então: “Tinha que ser essa turma do jiu!”.
Confesso que, até hoje, ainda me sinto desconfortável. Porém, passei a ser mais compreensivo com a situação.
A princípio, é preciso deixar claro que ninguém gosta ou se sente bem ao ver seu esporte em destaque nas páginas policiais. Por outro lado, entendo que, quando uma pessoa pratica ou tem sua imagem associada a algo de grande relevância, é natural que se exponha também o que ela faz. Isso ocorre no futebol, na cultura e, principalmente, na política. Por que seria diferente com o jiu-jítsu, considerando a proporção que a modalidade vem conquistando no mundo nos últimos anos?
Comenta-se que o passado agressivo de muitos lutadores associados ao jiu-jítsu contribuiu negativamente para a divulgação do esporte — e, até hoje, isso ainda respinga de alguma forma na modalidade. Concordo que havia alguns jiu-jiteiros nada samaritanos, mas nada desproporcional em relação a outras artes marciais. A diferença é que o jiu-jítsu cresceu muito, ganhou repercussão mundial. Então, é natural que, quando um veículo de comunicação precisa divulgar uma matéria sobre um crime em que o suspeito é praticante de jiu-jítsu, faça questão de citar essa informação.
Então, quando vejo uma manchete criminal envolvendo um praticante, eu entendo: a citação ao jiu-jítsu não é, necessariamente, um ataque. É um dado. Cabe a nós, que praticamos e conhecemos o verdadeiro espírito da arte suave, mostrar — com atitudes, dentro e fora dos tatames — que o jiu-jítsu não é sobre violência, mas sobre controle, disciplina e transformação.