
O ex-governador de Mato Grosso do Sul André Puccinelli (MDB) revelou, ao podcast Política de Primeira, memórias dos 152 dias em que ficou preso junto com o filho no Centro de Triagem de Campo Grande, em 2018, durante investigação da operação Lama Asfáltica, da PF (Polícia Federal)
“Eram 24 ‘pensionistas’ [risos], mas chegou a ter 32. Dormia no chão, não tinha cama para todos não. Lá na suíte 17 a gente acordava e fazia o confere. O que é o confere? Abria uma grade, depois abria a outra grade, o agente penitenciário ficava lá na frente e o outro ia conferir se estavam todos lá, se não tinham sumido pelo telhado, que é concreto, não tinha como sumir. Faziam o confere de manhã e o confere de noite. Nós tomávamos café da manhã, tinha um pãozinho, não era ruim a alimentação não. Aí eu ia caminhar, pro sol. Tinha a grade da cela, uma outra grade, depois tinha outra grade, aí tinha um espaço de mais ou menos 30 metros que eu ficava andando em círculo. Aí quando me chamava, a qualquer momento, eu ia atender. Eu não tive uma rotina enfadonha.”
“Eu aproveitei o tempo que eu estava lá pra ler bastante e principalmente pra exercer os meus dotes de médico pra atender lá. Não precisava chamar médico de fora. Atendia tanto o pessoal da suíte 17, onde nós ficamos, quanto do ‘corró’. Tinha problema de saúde, podia me chamar. Creio até que posso ter salvo uma vida lá. Tinha um menino que tinha erisipela, porque tinha uma doença chamada elefantíase. Ele ficou com febre alta, a perna purgando pus, íngua na virilha, ele estava desfalecido no quarto. Aí os agentes penitenciários, que por sinal foram bons, atendiam a todos com humanidade, inclusive os do ‘corró’, e eu disse ‘oh, o camarada precisa internar, ele vai empacotar, vai morrer’. Eles queriam uma outra opinião, não a opinião do colega de prisão do cara. E o médico demorava e eu disse ‘gente, vamos mandar fazer antibiótico potente no cara, o cara vai morrer’. Por fim, ele foi pro Hospital Regional, foi tratamento intensivo. E veja só, dois dias depois ele foi declarado inocente.”

Puccinelli foi preso no dia 20 de julho de 2018 e libertado no dia 19 de dezembro de 2018. Ele afirma que “foi uma prisão política”, pois ocorreu na véspera da convenção do MDB que o lançaria candidato ao governo do estado pela terceira vez.
“Naquele tempo não, naquele tempo a prisão foi por acusação ‘é ladrão, é corrupto’. Agora, em novembro do ano passado, a Lama Asfáltica que dizia que eu era ladrão e corrupto comprovou que eu não sou nem ladrão nem corrupto, que eu fui um bom gestor. Vistoriaram minha vida política, contas gráficas dos quatro bancos, sigilo telefônico, declaração de Imposto de Renda, declarações anuais do produtor. Desde 1986 vistoriaram tudo. Não tem impressão digital nem fora da cueca nem dentro da cueca.”
“Quando me prenderam e me deixaram 152 dias preso, 152 dias preso com meu filho, por que ele tem sobrenome de Puccinelli? Não tem nada. Nunca dei emprego público pros meus filhos e parente nenhum. Por quê? André roubou, André corrupto. Em novembro do ano passado, na questão da Lama Asfáltica, o mesmo procurador da República lá assinou agora dizendo ‘é, nos enganamos, o André não é ladrão.’ Quando saiu pesquisa depois da minha prisão, que eu saí, eu tinha 39% em Campo Grande, onde eu já tinha sido rei e hoje espero que eu não seja o bobo da corte, se eu não sou rei que eu possa ser um principezinho pelo menos por Campo Grande, tinha 39% da população que dizia que eu era ladrão. Hoje é 17%, 16%, 15%. Quer dizer, ficou a marca. Eu não sou e ficou a marca.”
“A Lama Asfáltica liberou os meus bens em novembro do ano passado. Só agora no mês passado que o juiz mandou ofício pro Detran liberar pra poder vender os carros. Eu não movimento a minha conta, não tenho Pix, eu não tenho conta. Quem movimenta é a Beth, minha companheira, que temos comunhão de bens nas mazelas e quando eu era um príncipe e ela era uma princesa, em 1973 quando nos casamos. Ela que movimenta tudo, ela que é a dona da casa, economista, planejadora. E daí? Eu vou ter ressarcimento? Eu em vida não vou conseguir ser ressarcido. Se eu conseguir ressarcimento, meus netos ou talvez tataranetos obtenham. Pra fuzilar, a Justiça é rápida. Pra fazer justiça à injustiça que fizeram lá atrás, demora, demora.”