Os combustíveis tiveram poucos aumentos nas refinarias no último ano, mesmo assim, nas bombas dos postos houve elevação dos preços para os consumidores. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam que, no intervalo de um ano, a gasolina aumentou em R$ 0,36, o óleo diesel comum, em R$ 0,24, e o etanol, em R$ 0,15, em Mato Grosso do Sul.
Conforme o levantamento, o valor médio do litro da gasolina era de R$ 5,69, na semana do dia 19 ao dia 25 de maio do ano passado, e passou a R$ 6,05, na semana passada (18 a 24) – aumento de 6,32%. Neste período, houve um único reajuste na gasolina por parte da Petrobras em suas refinarias, em julho do ano
passado.
Outro motivo que levou à elevação dos preços foi que o litro da gasolina ficou R$ 0,10 mais caro em fevereiro, enquanto o óleo diesel sofreu reajuste de R$ 0,06. A alta foi em decorrência do aumento anual da base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A oneração anual ocorre em todo o Brasil desde 2022. O ICMS sobre os combustíveis é calculado em reais por litro com uma alíquota única nacional.
O diesel não sofreu nenhum reajuste por parte da estatal em todo o ano passado, já no início deste ano sofreu um aumento de R$ 0,22 e três quedas, que somaram redução de R$ 0,45 nos preços repassados às distribuidoras. No entanto, o consumidor não viu essa queda de preço ocorrer nas bombas.
No mesmo período comparativo, entre maio do ano passado e este mês, o óleo diesel comum saiu de R$ 5,89 para R$ 6,13, alta de R$ 0,24 ou 4%. Já o diesel S10 saiu da média de R$ 5,96 para R$ 6,11, de acordo com o levantamento da ANP.
LUCRO
De acordo com o economista Eduardo Matos, o que ocorre é que recentemente as distribuidoras aumentaram a margem de lucro sobre os combustíveis fósseis. “Fazendo um recorte de 2020 para cá, o período foi marcado por uma crescente nos preços em um ritmo bastante acelerado. Mesmo considerando essa correção inflacionária, nota-se que, ainda assim, a margem das distribuidoras aumentou. Isso se deve à concentração de mercado”.
O economista ainda detalha que antes havia uma competição mais acirrada entre as distribuidoras.
“Tínhamos um número maior de players e, com a desestatização da BR Distribuidora, hoje Libra, ficou concentrado esse mercado, e isso possibilitou que se apertasse o preço para o consumidor e aumentasse a margem para as distribuidoras. Então, o que ocorre é justamente o aumento da margem via redução da competição. Isso é teoria econômica vista na prática”, ressalta Matos.
“Aquela situação em que vemos um oligopólio que tem um controle de preços maior diante dos consumidores em detrimento do preço dado ao mercado. Ou seja, quando há um número menor de concorrentes no mercado, eles têm maior poder de barganha para precificar os seus produtos e, assim, garantir uma margem de lucro maior”, completa.
A diferença entre o comportamento do preço do diesel que sai das refinarias da Petrobras e o preço cobrado nos postos tem chamado a atenção da estatal.
“A partir de 1º de abril, reduzimos em R$ 0,45 o litro do diesel, e, infelizmente, esse valor não está sendo percebido pelo consumidor final”, constatou o diretor de Logística, Comercialização e Mercados, Claudio Romeo Schlosser, durante apresentação do balanço da Petrobras. “Não temos o controle nem a influência sobre como as distribuidoras e os revendedores ajustam os seus preços”, explicou o diretor.
O litro do etanol também ficou mais caro em Mato Grosso do Sul, saindo de R$ 3,69, em maio de 2024, para R$ 3,98 neste mês – aumento de R$ 0,29 ou 7,43%.
PARIDADE
Conforme informado pelo Correio do Estado na semana passada, a mudança na política de preços da Petrobras sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completa dois anos neste mês. Durante esse período de 24 meses, a estabilidade nos reajustes foi eficaz, porém, na prática, os valores que chegam ao consumidor final continuaram subindo.
No período de dois anos, foi registrado aumento de 16,73% no valor médio da gasolina. No mesmo intervalo, o preço do petróleo tipo brent caiu de US$ 83 para US$ 65, o que representa uma queda de 21,7%.
A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulada no período é de 9,46%. Ou seja, apenas a gasolina subiu 7,27% acima da inflação. Já o diesel comum acumulou um aumento de 11,22% no mesmo período de dois anos – 1,76% acima da inflação oficial.
O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que a nova política de preços ainda apresenta resultados controversos.
“Os preços seguem variando próximos à PPI [Política de Paridade Internacional], com a Petrobras dosando preços e lucros no mercado. Pelo lado da empresa, foi tomado o cuidado de não trazer prejuízos, evitando reduções nos preços finais, porém, para o consumidor, os preços estão acima do esperado, ou seja, o governo buscou um equilíbrio entre a margem de lucro e o preço final”, esclarece.