Uma boa informação pode mudar tudo

Em meio ao caos viário, Agetran aposta milhões em câmeras e radares em Campo Grande

Buracos nas pistas, semáforos defeituosos, congestionamentos sem solução, faixas apagadas e falta de sinalização em diversos bairros: essa é a rotina de quem dirige pelas ruas e avenidas de Campo Grande. Em contrapartida, a gestão municipal segue ampliando sua capacidade de monitorar motoristas. A mais recente medida da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) é a abertura de uma licitação milionária para ampliar — e muito — o número de câmeras de vigilância espalhadas pela cidade. Para muitos condutores, a sensação é de que há mais olhos para multar do que mãos para consertar o caos urbano.

O aviso de licitação publicado pela Agetran prevê a contratação de uma nova empresa para gerir os radares da Capital, além da instalação de 85 câmeras de videomonitoramento, número quatro vezes maior do que o atual. O contrato, que terá validade de 24 meses, tem valor máximo estimado em R$ 50,2 milhões, o que representa uma média de mais de R$ 2 milhões por mês — investimento que tem gerado questionamentos sobre prioridades na gestão do trânsito local.

Conforme o edital, a empresa vencedora será responsável pela instalação, monitoramento e manutenção dos equipamentos registradores de infrações, além de fornecer a plataforma de gestão de dados e uma central de monitoramento com análise e inteligência de imagens veiculares.

O pacote de modernização inclui câmeras do tipo pan-tilt-zoom (PTZ), com capacidade de rotação de 360 graus, movimentação vertical de 180 graus, zoom óptico de 32 vezes e ajuste automático de foco, brilho e contraste. Os equipamentos também poderão ser controlados remotamente a partir da Central de Monitoramento de Trânsito. Cada imagem deverá conter informações como endereço, data e hora, e o sistema deverá operar 24 horas por dia.

Atualmente, Campo Grande conta com apenas 20 câmeras PTZ, instaladas em locais como a rotatória da Avenida Tamandaré com a Avenida Dom Antônio Barbosa e no cruzamento da Avenida Manoel da Costa Lima com a Avenida das Bandeiras. Com a nova licitação, esse número será quadruplicado, com a instalação de câmeras em 65 novos pontos da cidade — além da manutenção dos equipamentos já existentes.

De acordo com levantamento realizado pelo Correio do Estado, o custo estimado de cada câmera no mercado gira entre R$ 1.800 e R$ 2.300. No entanto, a planilha orçamentária da Agetran estima que cada uma custará R$ 646,31, o que gera dúvida sobre quais modelos serão realmente adquiridos e se eles atenderão às exigências técnicas descritas no edital.

O edital também prevê 1.520 locações (considerando os 24 meses de contrato), cada uma ao custo de R$ 525,65, o que representa R$ 798.988 apenas nessa categoria. As manutenções, por sua vez, somam R$ 3.495.422,40 no período, levando o custo total das câmeras de videomonitoramento a R$ 4,3 milhões — quase 9% do valor global do contrato.

Além das câmeras, estão previstas a instalação e manutenção de radares e lombadas eletrônicas em mais de 350 faixas da cidade, além de três radares móveis. A meta da prefeitura é triplicar a quantidade de equipamentos de fiscalização em Campo Grande. Atualmente, há 93 dispositivos, incluindo modelos fixos e mistos.

A medida ocorre em meio a críticas de motoristas e especialistas que apontam o contraste entre o investimento em tecnologia punitiva e a precariedade da infraestrutura urbana. A malha viária da cidade enfrenta deterioração acelerada, com ruas esburacadas mesmo em avenidas de grande fluxo, além de semáforos constantemente apagados e falta de sincronização nos principais corredores viários, agravando o já problemático trânsito da Capital.

Enquanto isso, o contrato anterior, firmado com o Consórcio Cidade Morena, encerrou oficialmente em setembro de 2023, embora os equipamentos sigam operando. Desde 2018, o contrato inicial de R$ 29,9 milhões teve sete aditivos, que elevaram o custo total a R$ 54,8 milhões.

Para muitos condutores, o cenário atual da cidade é um retrato da inversão de prioridades: monitorar se tornou mais importante que manter. Afinal, de que adianta fiscalizar com precisão milimétrica se as ruas estão intransitáveis?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *