Uma ação coordenada da Polícia Federal mirou nesta quinta-feira (8) um esquema sofisticado de grilagem de terras no Pantanal sul-mato-grossense, envolvendo empresários, fazendeiros e servidores públicos. Batizada de Pantanal Terra Nullius, a operação mobilizou dezenas de agentes para cumprir 11 mandados de busca e apreensão, a maioria em condomínios de luxo de Campo Grande. Nas diligências, foram apreendidos carros de alto padrão, relógios de luxo e R$ 600 mil em espécie. O valor total dos bens bloqueados pela Justiça ultrapassa R$ 3 milhões.
Segundo as investigações, o grupo teria fraudado documentos para se apropriar ilegalmente de áreas pertencentes ao Parque Estadual do Rio Negro, unidade de conservação localizada no bioma pantaneiro. A apuração aponta a possível participação de empresários, fazendeiros e, de forma preocupante, servidores públicos da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer). O governo estadual se manifestou por meio de nota, afirmando que acompanha a operação e colaborará com as investigações (leia íntegra abaixo).
O Mídia Cidade apurou que nove pessoas são alvos da operação:
- Mário Maurício Vasques Beltrão, engenheiro cartógrafo – sócio da Toposat Engenharia Ltda.
- Bruna Feitosa Beltrão Novaes, engenheira sanitarista e ambiental – sócia da Toposat
- Gustavo Feitosa Beltrão, advogado – sócio da Toposat e atuante nas áreas cível, imobiliária, agrária e ambiental
- Nelson Luis Moia, ligado à empresa Toposat Engenharia Ltda.
- Elizabeth Peron Coelho, empresária e pecuarista
- André Nogueira Borges, ex-diretor-presidente da Agraer
- Evandro Efigênio Rodrigues, funcionário da Agraer
- Jadir Bocato, gerente de Regularização Fundiária da Agraer
- Josué Ferreira Caetano, funcionário da Agraer
Nova frente da investigação aponta articulação com objetivo de legalizar terras para posterior revenda
As diligências da Polícia Federal revelam que o suposto esquema funcionava com a falsificação de documentos técnicos e cartográficos para simular posse legítima sobre áreas públicas. Com esses registros adulterados, os investigados tentavam legitimar propriedades rurais estrategicamente localizadas, valorizadas tanto pelo potencial agropecuário quanto pelo interesse em reserva ambiental. Segundo fontes ligadas à investigação, parte dessas áreas já estaria em processo avançado de negociação com compradores de outros estados, o que evidencia a existência de uma possível rede interestadual de beneficiários da fraude.
O que dizem os investigados
De acordo com o portal g1, os investigados Mário Maurício Vasques Beltrão, Bruna Feitosa Beltrão Novaes, Gustavo Feitosa Beltrão, Nelson Luis Moia, Elizabeth Peron Coelho, André Nogueira Borges e Josué Ferreira Caetano não se manifestaram até o fechamento da matéria. A reportagem também tentou contato com a empresa Toposat Engenharia, mas não obteve retorno. A Agraer informou que Evandro Efigênio Rodrigues não irá se pronunciar sobre o caso.
O que diz o governo de MS
Em nota, o governo de Mato Grosso do Sul declarou que acompanha e colabora com a Polícia Federal no âmbito da operação Pantanal Terra Nullius e que tomará as medidas cabíveis assim que tiver acesso ao conteúdo da investigação. A administração estadual reiterou o compromisso com a transparência e a lisura nos atos da gestão pública.